Trabalho de Formatura

MAC-499

 

Nome do Aluno:   Paulo Marcel Caldeira Yokosawa - Nº USP 3095430

Nome da Supervisora:   Leliane Nunes de Barros

Tipo de Trabalho Realizado:   Estágio

Empresa: HP Brasil

Período: Jan/02 - Dez/02


OBJETIVOS

Desde que iniciei o curso no IME, sempre pensei em procurar um estágio. Mas não um estágio qualquer, queria estagiar numa empresa grande, de preferência na área de tecnologia. Achava que dessa forma estaria iniciando minha carreira da forma mais promissora possível, "com o pé direito". Sempre tive em mente a idéia (que hoje em dia está atrasada) de que trabalharia vários anos em uma empresa, tentando subir em sua hierarquia. Então, entrar em uma organização de grande porte era um excelente plano.

 

Aconselhado por professores, decidi esperar até o 4º ano para procurar um estágio. E esta foi uma decisão muito acertada: dificilmente conseguiria acompanhar adequadamente o ritmo do curso se estivesse trabalhando.

 

Quando finalmente chegou a hora, decidi procurar uma empresa que se encaixasse no perfil que eu procurava, onde eu pudesse adquirir uma maior experiência prática, conhecer novas tecnologias, e aplicar os conhecimentos que eu havia adquirido no curso. Sabia que seria difícil, mas não queria um estágio como a grande maioria dos outros, em que eu ficasse programando ou fazendo coisas do gênero o dia inteiro. Acho que o BCC nos prepara para muito mais do que isso, e ia tentar ir para algum lugar em que fosse permitido eu exercitar tudo (ou quase tudo) o que o BCC me ensinou. A HP me pareceu a melhor escolha.

 

A EMPRESA

 

Iniciada por dois estudantes de engenharia de Stanford - Bill Hewlett e Dave Packard - que decidiram no cara ou coroa se seria Hewlett ou Packard a aparecer primeiro no nome da empresa, a HP foi fundada em 1939. A garagem em Palo Alto onde ela tem suas origens foi batizada como o local de nascimento do Vale do Silício e foi tombada como patrimônio histórico.

O capital inicial da empresa foi de US$ 538, e o seu primeiro produto de sucesso foi um novo projeto para um oscilador de áudio, que seria usado na produção do filme "FANTASIA", dos estúdios Walt Disney.

Desde então, a empresa prima por fazer valer seu slogan ("Invent"), se inserindo nos mais diversos mercados, seja através do desenvolvimento de novos produtos (criados pelo HP Labs), por aquisições e fusões com outras empresas e por decisões estratégicas.

Após a histórica operação de fusão com a Compaq, no primeiro semestre de 2002, a nova HP, como vem sendo chamada, se tornou líder de mercado em servidores "fault-tolerant", servidores UNIX, servidores Windows, soluções de storage, software de gerenciamento, equipamentos de imagem e impressão, e PC´s.

Invenções da HP, entre outros:

- Calculadora científica de mesa (HP 9100A);

- Calculadora científica de mão (HP-35);       

- Computador técnico com a tecnologia de 32 bits (HP-9000) - o "mainframe de mesa";

- Computador pessoal com "touchscreen" (HP-150);

- Tecnologia de impressão a jato de tinta (HP ThinkJet)

- Impressora a Laser (HP LaserJet), o produto de maior sucesso da HP em todos os tempos.

 

 

Hewlett-Packard Company

3000 Hanover Street
Palo Alto, CA 94304-1185

Chairman and CEO — Carleton (Carly) S. Fiorina
Faturamento: US$ 45.2 bilhões*

Funcionários: 88.000*

 

* - Dados pré-merge

 

 

 

 

 

HP Brasil

 

A Hewlett-Packard Company, presente no Brasil desde 1967 no ramo de instrumentos de medição e equipamentos médicos, compra, em 1989, 3 empresas do ramo de informática e passa a operar sob o nome de EDISA Hewlett-Packard.

Em 1997, a empresa altera sua razão social para Hewlett-Packard Brasil S/A, com matriz fixada em Alphaville, e filiais no Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo -  capital.


Meu Trabalho

Dentro da HP, fui designado para trabalhar na divisão de Consultoria da empresa. Gostei dessa escolha, porque considerava a consultoria uma atividade dinâmica, em que eu deveria sempre estar aprendendo coisas novas, e dificilmente teria rotina. Além disso, devido às várias visitas à clientes, teria a chance de desenvolver não só o meu lado técnico, mas também o comportamental.

Como a consultoria existente na HP Brasil é técnica, os consultores são divididos conforme seus "skills", ou conhecimento que possuem. Normalmente, cada um é especialista em uma das ferramentas da empresa (como as da familia OpenView, responsável pelo controle e monitoramento de quase 70% dos servidores que compõem a Internet, ou o HP-UX, o sistema operacional UNIX da HP).

À mim, foi designado, desde as primeiras semanas de estágio, estudar o HP Process Manager, ferramenta de BPM (Business Process Management) da HP. Era uma ferramenta relativamente nova, e quase ninguém a conhecia no Brasil. A HP planejava introduzi-la no mercado para competir com o WebSphere Process Manager, da IBM, e ferramentas da BEA e Tibco, principais concorrentes.

 

HP Process Manager

 

O Process Manager é uma ferramenta desenvolvida para tratar de processos de negócios. Ele facilita a criação dos processos e fornece diversas métricas que permitem o acompanhamento e o controle do andamento dos mesmos.

 

Processos de negócios são operações existentes nas empresas compostas de uma série de tarefas que tem um objetivo comum. A linha de produção e venda dos produtos de uma empresa, por exemplo, pode ser considerada um processo. Ele inicia-se pela reunião da matéria-prima necessária, passa pela transformação dessa matéria-prima em um produto industrializado, pela análise para definição do preço, pela logística de distribuição, pela campanha de marketing, etc. Todas essas etapas tem que ser cumpridas totalmente para que o objetivo final (produção e venda), seja alcançado.

 

O Process Manager é capaz de criar e lidar com todos os tipos de processos, desde os realizados por pessoas (como aprovações de pedidos, anexações de documentos, etc) até os desempenhados por sistemas. Na verdade, a maioria dos processos é composto por etapas que abrangem os dois tipos. No exemplo citado acima, seria necessária a aprovação de um gerente para a compra de matéria-prima, haveria um sistema responsável pelo controle da produção, os analistas deveriam anexar seus estudos para a definição do preço para que esses fossem analisados pelos seus diretores, o sistema de CRM forneceria informações importantes para a equipe de marketing... Todos esses "subsistemas" trabalham juntos para alcançar um objetivo final, e um depende do outro. Assim sendo, é preciso que cada um, além de desempenhar sua função, conheça o seu papel dentro do processo: é preciso saber quem será sua fonte de dados, em que momento ir buscá-los, tranformá-los e repassa-los, para quem repassá-los e em que momento... Essa é a lógica do processo. Dependendo dessa lógica, dois processos que fazem a mesma coisa podem ter desempenho bem diferente, o que pode significar uma vantagem competiviva muito importante para uma ou outra empresa. Daí provêm a importancia e atenção que as empresas dispensam aos seus processos, e à constante busca pela melhoria e otimização dos mesmos.

 

O seu nome descreve perfeitamente o que o Process Manager faz: ele é, em todos os níveis, um gerenciador de processos. Toda a "inteligência extra" necessária aos subsistemas que compõem um processo passa a não ser mais necessária, uma vez que o Process Manager se encarrega de "ler" toda a lógica do processo e comandar o andamento do mesmo. Ele centraliza e sincroniza a troca de informações entre os subsistemas, que passam a ter o processamento das informações como única responsabilidade: o subsistema recebe dados do Process Manager, os processa e os reenvia ao Process Manager, que então analisa a lógica do processo e decide o que fazer com aqueles dados. Com isso, ele deixa os processos mais organizados, bem-divididos e poderosos.

 

Além disso, ele fornece métricas sobre os processos, que permitem identificar "gargalos", e melhorar o desempenho dos mesmos. Outra funcionalidade é permitir acompanhar, graficamente, em que estágio o processo se encontra. Por exemplo, num processo de transporte de carga por caminhões. Se, em cada caminhão em que a carga estivesse sendo transportada existisse um sistema controlado pelo Process Manager que indicasse a posição do caminhão, o cliente que fez a encomenda poderia, a qualquer momento, consultar o HP PM e verificar em que local sua carga se encontra.

 

 

O início

 

A primeira tarefa que tive foi fazer um auto-estudo da ferramenta. Devido à relativa complexidade da mesma (precisava aprender  a criar processos, entender as métricas, saber como acompanhá-los, entender e aprender como era feita a comunicação entre o Process Manager e outros sistemas (como bco de dados Oracle e o HP Application Server), o que envolvia aprender XML e CORBA, me familiarizar com a API do HP PM, etc) isso me tomou 3 meses. Todo meu estudo era baseado na documentação do Process Manager, que era bem completa. Mesmo os assuntos "complementares", como XML, eram abordados lá.  Na minha opinião, essa fase inicial foi a mais difícil, pois não havia ninguém com quem eu pudesse conversar sobre o assunto, uma vez que o produto era novo no Brasil. O máximo que eu podia fazer era mandar e-mails para os criadores do software. Depois de um tempo, ficou difícil de me motivar, perdido entre tantos manuais e cheio de dúvidas.

 

Segui assim até o início de Junho, quando os executivos da HP Brasil decidiram investir pesadamente no Process Manager. Foi então convocada uma consultora da HP da Inglaterra, Larissa Flynn, para ministrar um curso para 20 consultores brasileiros, contando comigo.

Dias antes do curso, ajudei a montar o ambiente, instalando desde o Windows 2000 até o Oracle 8i, o HP Application Server (subsistemas que seriam usados em exemplos do curso) e o próprio Process Manager (era a primeira vez que eu fazia isso, devido a problemas com licensas) em 20 máquinas.

 

Durante o curso eu fui redescobrindo a ferramenta. Funcionalidades que eu nem imaginava me foram apresentadas, e diversas dúvidas que eu tinha foram esclarecidas. Após assistir as aulas, trocar idéias com a instrutora e praticar um pouco, já me considerava pronto para ir a campo implementar a solução. Só faltava um projeto.

 

O meio

 

No meio de Junho, fui alocado para apresentar o Process Manager numa feira de tecnologia para instituições financeira, a CIAB. Foi uma experiência muito interessante, pois além de ser o primeiro contato real que eu tinha com potenciais clientes, era uma oportunidade de testar meus conhecimentos, de saber o quão bem eu conhecia a ferramenta.

 

Alguns dias após sua realização, a feira começou a dar seus frutos: o banco HSBC solicitou um projeto-piloto do Process Manager, e eu fui alocado para fazer parte da equipe de implementação.

 

O piloto consistia em simular algumas operações bancárias, mostrando como o Process Manager controlaria todos os sistemas envolvidos. Foi formada uma equipe de 3 consultores, eu e um gerente de projeto. Esse gerente acompanhava o andamento do projeto no dia-a-dia, perguntando à todos como iam as coisas. Explicar nosso trabalho à ele era um tanto complicaco, pois ele não tinha tanto conhecimento técnico, cuidava mais da parte administrativa do projeto.

 A mim, foi designada a tarefa de desenvolver um sistema de cotação de ações. Era o subsistema mais simples do projeto, pois todos os outros envolviam no seu desenvolvimento conhecimentos que eu não possuía, como de banco de dados Oracle, Application Servers e outras ferramentas de Middleware.

 

Em resumo, o sistema consistia em enviar cotações de ações para compradores, que poderiam acompanhar essas cotações através da internet (o Process Manager permite acesso de usuários através de um web browser), e estes poderiam anexar documentos de autorização de compra e enviá-los para seus agentes. Uma vez efetuada a compra, as ações desejadas eram atualizadas no banco de dados como pertencentes ao comprador.  Eu consegui terminar a minha parte dentro do prazo, que era de 1 mês, e fiquei aguardando a conclusão das outras partes do projeto, auxiliando os outros consultores no que era possível. Na minha opinião, a equipe deveria ter um treinamento para ter um conhecimento maior do negócio do banco, para entender melhor os sistemas em questão, mais isso não era possível devido à urgência de entregar o projeto.

 

Quando o projeto estava pronto, foi marcada uma reunião com diretores do HSBC para apresentar o piloto. Apenas uma pessoa da HP (do departamento de vendas) iria apresentar o projeto como um todo, embora a equipe toda estivesse presente para elucidar eventuais dúvidas. Então, tive que passar a essa pessoa uma idéia geral do meu trabalho.

A reunião correu muito bem, o cliente pareceu muito impressionado com o poder e as possibilidades que a ferramenta era capaz de fornecer. Na mesma reunião fora marcada uma outra para discutir o preço de um eventual projeto (essa era uma das grandes desvantagens do HP PM: o preço. Ele era muito caro, o que dificultava as vendas numa época de recessão na maioria das empresas).

 

O fim

 

Porém, quando tudo indicava que a venda seria efetuada e o Process Manager iria decolar no Brasil, veio a notícia que caiu como uma bomba em minha equipe: em 30 de Agosto de 2002, a HP anunciava que, devido à reformulações nas estratégias da empresa por causa do merge com a Compaq, o HP Process Manager iria ser descontinuado. O projeto do HSBC foi suspenso, e a ferramenta foi tirada do portfólio da HP.

 

 

Codename: HP DC

Depois disso, também pela reestruturação geral que o merge gerou na HP, fui transferido para a área de marketing. Apesar disso, não me afastei da área de tecnologia, muito pelo contrário.  Comecei a trabalhar no Discovery Center da HP (HP DC).

 

O Discovery é um arrojado projeto do depto. de marketing da HP. Ele consiste em uma área que concentra toda a tecnologia de ponta da HP, muitas delas vindo diretamente do HP Labs. Equipamentos de Hardware da HP-Compaq que foram lançados recentemente ou que ainda nem foram lançados, como o super-servidor HP Superdome ou a linha de Tablets-Pc´s, podem ser encontrados lá, em testes ou como protótipos.

 

Há também no HP DC uma sala de apresentações totalmente futurística, que tem a finalidade de encantar os clientes e idealizar a imagem que os mesmos tem da HP, facilitando assim a concretização de novos negócios. Essa sala consiste de três monitores com fonte independentes e diversos monitores LCD, além de pontos de rede para notebooks.

Toda a sala, desde cortinas, iluminação, fonte de alimentação dos projetores e monitores LCD, altura da cadeira dos participantes, nível do ar condicionado, tudo é controlado por um único controle remoto.

 

No Discovery, minha função é dar suporte à essa infra-estrutura tecnológica, cuidando para que tudo funcione bem. Faço parte da equipe que toma contato com as novas tecnologias (principalmente de software) que chegam até nós, e ficamos responsáveis por montar protótipos dessas tecnologias para apresentá-las aos clientes. E também controlo as funções da sala, durante as apresentações.

 


 

 

Desafios e Frustrações

 

 

Meu estágio também me trouxe algumas outras frustrações, além da súbita interrupção do projeto que eu participava. Porém, vale ressaltar que a maioria delas eram causados por fatores circunstanciais, como por exemplo por toda a reestruturação gerada pelo merge com a Compaq.

 

Um dos principais problemas que eu tive na HP foi o fato de, novamente por causa do merge, haver poucos projetos. Eram poucos os clientes, mesmo os que estavam apenas interessados em conhecer novas soluções. Como trabalhava na área de Telecom dentro da Consultoria, havia ainda menos projetos, devido à dificuldade enfrentada pelas empresas do ramo. Devido a isso, eu ficava grandes períodos de tempo sem produzir nada, apenas estudando manuais e livros. Não havia trabalho a ser feito.

Esse problema se reduziu drasticamente após o ínicio do corte de pessoal. Após ele, o número de pessoas na empresa diminuiu bastante, e passei a ficar mais atarefado.

 

Outro problema que enfrentei e que sei que provavelmente continuarei a enfrentar é o de como se fazer ouvir pelas pessoas de sua equipe. Minha equipe de trabalho era composta por alguns consultores com mais de 25 anos de experiência, cuja hora de trabalho vale mais de R$ 200,00. Fazer com que uma pessoa com essas qualificações ouça as recomendações de alguém que está começando a trabalhar agora, mesmo numa empresa aberta como a HP, é muito difícil.

 

Por último, gostaria de citar o problema que considerei mais grave, e sobre o qual escreverei mais adiante: a falta de experiência prática que eu tinha para enfrentar o mercado de trabalho.

A proposta do IME de ensinar o núcleo, o funcionamento, a teoria dos diversos ramos da computação para que possamos, de posse desse conhecimento, nos adaptar à qualquer tecnologia que precisemos ou que possamos vir a precisar é corretíssima, sob meu ponto de vista. Concordo plenamente com ela, e acho que deveria continuar a ser dessa forma.

Porém, também acho que a faculdade poderia nos dar uma noção melhor das tendências atuais do mercado, das coisas que precisamos saber para trabalhar atualmente. Perdi algumas oportunidades dentro da HP para pessoas que fizeram faculdades não tão renomadas, mas que já tinham esse conhecimento técnico que era requerido para o projeto, conhecimento esse adquirido na faculdade. Entre esperar que eu aprendesse o que fosse necessário (como VB ou ASP, por exemplo) e escolher para a equipe de implementação alguém que já tinha o conhecimento, os gerentes de projeto sempre ficavam com a segunda opção.

 

Sei que muito desse papel não cabe à faculdade, e sim ao próprio aluno. Tenho consciência que muito dessa busca pelo conhecimento prático deveria ter partido de mim mesmo. Na verdade, eu até me preocupava com isso, procurava estar sempre atualizado, mas esse conhecimento era superficial, muito aquém do que era exigido no dia a dia, até porque nosso curso é bastante difícil, não deixando tanto tempo livre para uma busca mais profunda em muitos outros assuntos.

 

Uma sugestão seria os professores pedirem ep's em linguagens diferentes em cada matéria. Isso "forçaria" os alunos a escreverem programas, e consequentemente aprenderem, em diversas tecnologias. Atualmente, salvo algumas excessões, praticamente só se programa em C. Essa medida provavelmente causaria insatisfação entre os alunos, mas seria muito útil para os mesmos quando fossem entrar no mercado de trabalho.

Outra possibilidade muito boa seria uma matéria, ou até mesmo uma coisa mais informal, como um ciclo de palestras, que tratasse apenas de assuntos relacionados à tecnologia. Algumas palestras desse tipo já aconteceram no Ime (servidor de aplicação da Fujitsu, as palestras sobre o WebSphere, da IBM), e foram muito proveitosas.

 

Como desafios, vale comentar o contato constante que eu tinha com novíssimas tecnologias. Era preciso entender o conceito rapidamente, para colocar em prática o quanto antes. Termos como Application Server, Cluster, Bluetooth, EAI, BPM, e outros, que a maioria das pessoas não conhece muito bem, eram usados no cotidiano. E eu tinha que me esforçar muito para entender o que estava acontecendo, até porque trabalhava apenas 20 horas por semana.

 

 


Diferenças: Meio Acadêmico X Mercado de Trabalho

 

Desde quando eu comecei a procurar um estágio, já estava ciente que encontraria um ambiente bem diferente do que eu estava acostumado. Sabia que, apesar de meu objetivo ao estagiar seria aprender, meus empregadores também esperavam algum retorno de minha parte. Sabia também que não seria possível pedir muitos adiamentos na entrega do serviço, como sempre fazemos com os ep´s do curso.

 

Apesar de tudo isso, posso dizer que essa adaptação faculdade -> trabalho foi bastante difícil. Um dos aspectos foi o lado técnico: muitas vezes, eu não tinha o conhecimento necessário para desempenhar uma certa tarefa, e teria que aprender sozinho para completar o serviço. Na verdade, com isso eu já contava, pois sabia que o leque de conhecimentos necessário para se trabalhar com tecnologia hoje em dia é muito grande, e é impossível para alguém conhecer tudo. O que eu não contava era com a falta de tempo que eu teria para aprender o que era necessário. Na maioria das vezes, os projetos que demandavam o conhecimento requerido já estavam atrasados, e os gerentes não esperariam eu aprender. Preferiam passar o trabalho para outra pessoa, ou mesmo contratar um funcionário "free-lancer", só para o projeto.

 

Outra grande diferença era o ambiente. Embora o ambiente na HP fosse muito bom, apesar de toda a pressão do merge, ameaçando todos os empregos, obviamente não se comparava à informalidade do ambiente do IME. As conversas eram mais sérias, os rostos, mais preocupados. Isso me fez perceber a fundo o quanto vou  sentir falta da atmosfera da faculdade!

 

Por outro lado, eu acredito que o ambiente profissional é muito mais organizado e motivador. Conseguir entregar um projeto que deixe o cliente satisfeito é extremamente realizador, muito mais do que uma boa nota em uma prova. Um simples e-mail de congratulações do seu chefe faz com que facilmente nos esqueçamos de todas as horas de esforço que gastamos para conseguir aquele elogio.

Além disso, as oportunidades de aprendizado prático em uma empresa são muito maiores do que em uma faculdade. Há coisas que só a prática ensina, e, no IME, não temos tanto tempo para "colocar a mão na massa". Nesse ponto, o estágio foi muito proveitoso.

 


 

Teoria na Prática

 

 

Em relação às matérias que me foram mais úteis no estágio houve, na maioria dos casos, uma confirmação do que eu já esperava. Mas também tive algumas surpresas...

 

A "espinha dorsal" clássica (Introdução a Computação, Principios de Desenvolvimento de Algoritmos e Estrutura de Dados), é claro, me foi muito útil. Uma vez que vc tem essa base forte, a adaptação a qualquer linguagem de programação é bem menos traumática.

 

Como no HP Process Manager os processos tinham uma identificação muito forte com objetos (nome, atributos, métodos...), ter cursado Programação Orientada a Objetos também foi importante. Além disso, também usava os conceitos de orientação a objetos em diversos pequenos programas que precisava fazer, de modo que isso passou a fazer parte da minha rotina.

 

Outra matéria que me ajudou a ter conhecimentos para desempenhar funções de suporte e infraestrutura foi Sistemas Operacionais. Muitas vezes, além de instalar as soluções nos clientes, éramos responsáveis por montar toda a infraestrutura necessária, como instalar e configurar sistemas operacionais, sem falar nos problemas não-relacionados à ferramenta da HP que tínhamos que resolver. A disciplina não me forneceu todo o conhecimento de que eu precisei (e nem poderia), mas ajudou bastante.

 

No campo das surpresas, uma optativa que fiz e que se mostrou bastante interessante no mercado de trabalho foi Sistemas de Objetos Distribuídos, cursada no meu 7º semestre. A disciplina aborda temas bem atuais, como CORBA e tecnologia JAVA, que são muito comentados na realidade das empresas.

 

Outra característica fundamental para a vida profissional é saber escrever e se expressar bem. A todo momento, nossa capacidade de comunicação é testada, através de relatórios, apresentações, ou mesmo em conversas com clientes. Nesse sentido, notei que uma matéria a que não dava muita importância, como Português Instrumental, tinha um certo sentido. É claro que ela por si só não é suficiente, mas chama a atenção para o fato de que conhecer bem nossa língua pode ajudar muito em nossa vida profissional.

 


 

Conclusão

 

Como já citei anteriormente, desde que iniciei meu curso no IME, decidi seguir o conselhos dos professores, de me dedicar integralmente ao curso, e adiar minha entrada no mercado de trabalho. Essa decisão se mostrou acertada, pois consegui me preparar muito melhor do que se estivesse trabalhando e estudando ao mesmo tempo. Estou certo de que essa preparação me será muito útil no decorrer da minha vida profissional.

 

Porém, o "efeito colateral" dessa decisão foi que eu me distanciei um pouco da realidade das empresas, do que o mercado procurava, da prática em si.

 

Quando procurei um estágio, era essa falha que buscava sanar. E, em parte, fui bem-sucedido: na HP, tive contato tanto com tarefas do dia-a-dia quanto com novíssimas tecnologias, que eu nem sabia que existia.

Ainda assim, acho que não adquiri toda a prática que gostaria, e isso não foi por culpa da empresa, pois o tempo que passei lá foi relativamente curto.

Na minha opinião, o IME poderia incentivar a aproximação dos alunos com a realidade das empresas, seja através de parcerias em projetos, palestras ou até mesmo pela elaboração de ep´s mais "realistas". Mas é claro que é preciso que o próprio aluno tenha uma iniciativa nesse sentido, como participar do IME Jr. Iniciativa essa que, admito, não tive. E que me fez muita falta.

 

No geral, gostei bastante do estágio, apesar de ter a confirmação de que as coisas não são bem como se imagina.

Tive a excelente experiência de trabalhar numa gigantesca empresa multinacional, e numa época tão conturbada e tensa como agora, com toda a reestruturação causada pela união com a Compaq.

 

Porém, esse estágio serviu também para me indicar que não é uma carreira estritamente técnica que eu procuro. Gostaria de estar numa posição em que, mais do que programar aplicações, eu soubesse para que aquelas aplicações serviriam, que impacto teriam na empresa, e em que eu pudesse participar do processo de decisão sobre que tecnologias a empresa deveria adotar. Sinto que o BCC me preparou para isso. E é isso que vou perseguir a partir de agora.


11/12/2002